quinta-feira, 14 de novembro de 2019

das palavras concretas...

Nenhuma descrição de foto disponível.
Peço perdão aos céus tantas vezes.
É que quando me sinto cansada duvido de muitas coisas.
Não de Deus, da potência do Universo ou da minha fé. Mas, quase. Quase.
Numa tarde dessas, me sentindo no meio de um vazio de vontades, ouvi: - Como faço para ajudar?
E achei isso tão bonito, a palavra sendo concreta, tendo vontade de presença. Um bem-querer sólido, completo e tão de verdade.
.
Naquele instante percebi a enorme diferença entre o que acabara de ouvir e o tão conhecido “se precisar me avise”.
Palavras, quando querem, são sólidas.
Pessoas também.
.
Num mundo que desaprendeu o amor, que tem mais histórias de desencantos do que de parcerias, me comovo com a generosidade na escolha das palavras.
São tempos de invisibilidade, em que ternura se confunde com invasão, em que o amor é tido como o sentimento dos frágeis, um enfraquecimento perigoso. Me sinto cada vez mais deslocada.
Exausta de gente que age com diplomacia, mas com pouco afeto. De quem conduz civilizadamente suas relações, mas sem entrega. De quem deixa as portas meio-abertas, sempre prontos para partir. De quem, no máximo, ancora a sua solidão na do outro. Evitando os riscos do bem querer, da vulnerabilidade do amor. Evitando a vida.
.
Nunca vi tantas histórias de amor darem errado.
Tanta descartabilidade, tanta falta de tolerância, tanta gente se sentindo só.
Mas para muitos parece tão difícil dar o primeiro passo. Estender as mãos. Ficar. Tão difícil se dar.
Só o que sabem fazer é buscar. Infinitamente. Muitas vezes sem nem saber o quê.
.
O curioso é que essa espiral de vazios acaba revelando ainda mais o amor.
Valorizo cada gesto de delicadeza, cada pessoa disposta a mudar os diálogos, as relações e o mundo.
Gente que sabe ouvir, que tem o olhar interessado, que não soltam nossas mãos, nunca, que são presentes, mesmo que não fisicamente. Gente sem preguiça de gente. Sem preguiça da gente.
.
Coleciono essas concretudes.
E tenho sido salva por meus amigos.
São bússolas para mim.
É que, já disse, quando me sinto cansada duvido de muitas coisas.
Menos de uma: sei muito bem onde é o meu Norte.
.
Solange Maia

Um comentário: