quinta-feira, 14 de novembro de 2019

não elegemos nenhuma outra urgência...


Uma das coisas que mais amo na vida é dormir com você.
Tem noites que demoro até conseguir desviar os olhos do teu sono.
Protejo tuas costas do frio, acaricio sua cabeça tentando eliminar eventuais restos do dia que ainda povoem teus pensamentos, ajeito os travesseiros e estico as pernas por cima das tuas, até que fiquemos assim, sobrepostos. Então paro. Paro para que você não acorde. Porque já disse, amo te ver dormir.

Temos usado as horas até a exaustão e, mesmo assim, o amor tem sido generoso conosco.
Generoso porque quando deitamos nossos corpos na cama e sentimos o cansaço, sabemos que temos um ao outro.
E nos tendo, percebemos que somos desejo, mas somos também acolhimento. Nossa entrega aceita também o sono. Aceita porque sabemos que dormir é quando a presença do outro basta, quando os vínculos se fortalecem, quando o mundo para de existir. Dormir com você é muito íntimo. Muito íntimo.

Dormir é confiar, é repousar a tua exaustão na curva do ombro do outro, é sentir protegidas as tuas vulnerabilidades, é quando sabemos que palavras não são necessárias. Os gestos sim. E estão todos ali, até que nossos corações sincronizam os batimentos e finalmente rendam-se. Descansamos. Não do amor, porque dele não se descansa nunca, mas da vigília que tem fatigado os nossos dias.

Dormir junto é não eleger nenhuma outra urgência.
Porque o amor a gente descansa assim, no aconchego da cama desarrumada, ouvindo repetidas vezes as músicas que gostamos, vestindo uma camiseta velha, muito velha, e permitindo que os olhos fechem... na mais linda e absoluta paz.
Vivemos um delicioso tsunami sensorial, é fato, o amor é sempre esse convite, mas em algumas noites, exaustos, sabemos que dormir também é amar.
Também é amar.

Solange Maia

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