por tua nuca...
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Drummond dizia: “Sejamos pornográficos, docemente pornográficos”.
Escorrego as mãos por mim, percorrendo os caminhos que suponho que vá trilhar. Deslizo-as no sentido contrário aos pêlos, é assim que arrepio. E falta-me o ar... falta-me desde o baixo ventre. Experimento meu corpo, toco suavemente a pele, fico mais densa, me liquefaço... Tento imaginar se é assim que caminharias por mim.
O céu perdia os últimos azuis, e a menina tinha um sonho esperando por ela. Um sonho que queria muito ser sonhado.
Um vento do norte desmanchou a pilha de papéis sobre a mesa.
Alterno entre o encantamento e o desejo.
Acho que perdi o jeito. Estou fora de moda.
"Acho que a única razão de sermos tão apegados a memórias, é que elas não mudam, mesmo que as pessoas tenham mudado."
De vez em quando acho que a vida é que faz as escolhas.
Eu te imagino tanto, e com tantos detalhes que já sei de cor os teus caminhos, conheço de ti cada pinta, cada ponto, cada canto.Acendo velas e vejo as rendas que suas sombras desenham nas paredes do quarto enquanto finjo dormir só para poder te sonhar. Mais.
Tranço minhas pernas nas tuas, nuas, enquanto deslizo as mãos suadas por tuas costas, desenhando espirais. Fico tonta, é tanto...
Lambo, sopro, cheiro...
Quero mais, mas amanhece... e o sol pinta o quarto todo de cores claras. Claro, preciso acordar.
Preciso. Mas não quero...
Já fui sim menina-caipira.
Nos idos dos anos 70 morei numa cidadezinha rural, de ruas tortas, de terra batida e casinhas de madeira com seus enormes quintais. Eu tinha pouco mais de cinco anos, e é uma das minhas lembranças mais antigas.
Lembro do piano da escola, dos enormes besouros, do poço no fundo de casa, da Igrejinha, do capeletti in brodo, do frio pungente e dos eucaliptos gigantes.
Com eles papai fazia celulose.
E eu fazia poesia.
Sem nem saber.
É que ficava flutuando o olhar sobre aquelas toras de madeira castanha por horas sem fim. Desta maneira tocava com os olhos o que para mim era a felicidade : um tanto de verde, de vento, e o perfume que dava significado ao ar.
Hoje, a despeito de ser (estar) urbana e cosmopolita, vejo eucaliptos daqui da janela de casa, de onde escrevo. E, de alguma forma, estão sempre em meus caminhos.
Cuido para que não sejam só memórias...
Ontem, quando comecei a escrever o blog, eram uma pergunta.
Hoje são só deslumbramento...
Tudo aqui é verdade. Pelo menos é a minha verdade.
É minha maneira ritmada de perceber a vida.
Quero ver “através”, quero desconstruir o óbvio,
Quero celebrar a vida.
E depois... depois quero sentir os eucaliptos.
“Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.”
- A.Cícero -
E, como o “para sempre” se assusta fácil, tenho fotografado para nada perder...