terça-feira, 21 de setembro de 2010

daquela família...

A mesa enorme, toda arrumada.

Os lugares postos, os pratos alinhados, guardanapos coloridos.

Lembro-me que era em torno dela que nos relacionávamos.

Vovó fazia tortas de camarão. A paçoca vinha do Rio.

Crianças corriam pela casa. Juntava gente de todo lugar.

Tanta história bacana. E uma alegria iminente.

.

De repente a gente cresce, e a coisa começa a desacontecer.

Daqueles laços estreitos, tão íntimos, tão certos,

nasce um desdém educado, uma aspereza gratuita, um hiato.

Como se estivéssemos balançando numa corda frouxa.

.

E tudo que era para sempre desapareceu.

Sem que eu nem bem tivesse tido tempo para tirar a mesa.

Sumiu toda a gente, os pratos alinhados e todos aqueles afetos.

.

É que de vez em quando, nos domingos de chuva, a mesa posta ainda faz doer em mim todas essas ausências.

28 comentários:

  1. se ainda tens uma mesa , é isso que importa , novas pessoas aparecerao para dividi-la com voce , porque a vida é assim ... quase um restaurante sabe , um entra e sai de gente , umas importantes , outras nem tanto . beijo

    Anonimo do bem

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  2. Sei exatamente o que é a falta da mesa posta! Além dos pratos o alimento principal o amor e o afeto! Querido "Anônimo do bem", tem mesas que nenhum restaurante do mundo trás de volta!
    Querida amiga vc agora tocou fundo na minha alma. A mesa de minha mãe e de minha vó que só existem agora na lembrança.
    bjs

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  3. Ah, a mesa posta.

    Representa tantos desacontecidos, pode ser várias formas de não existir mais.

    Ao menos já existiu mesa posta. Agora resta só a mesa. Mas ainda tem seu valor..

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  4. Oi Solange,

    Lembrar nos faz assim; alegres e tristes,nos deixa em instantes de sonhar, mas acredito que tudo é prá sempre e que não devemos tirar a mesa, sempre continuar o que recordamos com o coração. Pense bem torta de camarão é sempre torta de camarão, ind'a mais feita pela avó. Já estou com água na boca.

    Abraços.

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  5. Eu lembro que a minha familia tinha um costume parecido, até que os meus avós foram morrendo e com o tempo o costume fui desaparecendo; triste este fim...

    Fique com Deus, menina Solange Maia.
    Um abraço.

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  6. Senti tudo que li e o que li é tudo verdade!

    Beijocas no coração! Saudades daqui!

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  7. Oi Solange,
    Adorei o seu texto... Um tempo que não volta mais, mas que, ainda, uma mesa arrumada é capaz de resgatar muitas saudades. Que assim seja ao menos, até que não haja mais hiatos...

    ******************
    Eu não conheci avôs, apenas uma avó (mãe de meu pai) era viva quando eu nasci. Eu a adorava... Ela sempre me dava doces quando íamos (a família) visitá-la. Ela ficava tão feliz... Sempre nos recebia com um sorriso no rosto e jamais abriu a boca para reclamar... Linda!! Pena que partiu comigo ainda pequena. Por outro lado, a tia de minha mãe, que a criou desde os 07 anos de idade até ela se casar, faleceu com 102 anos. Era um doce, uma santa viva (verdade!), como minha mãe a tinha... Passava o dia tricotando e rezando. Bem, eu a tive como minha (tia) avó materna.

    ******************
    Doces lembranças você despertou em mim...
    Obrigada...

    Beijos,

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  8. versos lindos llenos de recuerdos sublimes que nos traen a la mente y nos da nostalgia al lembrar..... obrigado amiga

    saludos
    abracos

    otima semana

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  9. é dolorido ver o tempo nos afastar de quem amamos.
    beijo!

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  10. Dói em mim também Sol. Me fez chorar mais uma vez...
    Só não tinhamos a paçoca. No lugar dela havia sempre um bolo enorme e na manhã seguinte papa com desenhos de animais feitos com canela em pó. São essas ausências que me fazem ver como tive muita sorte nesta vida.

    Beijos na alma!
    Layla Barlavento
    culpadowalter.blogspot.com

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  11. teus versos Sol,
    fez-me lembrar de tudo aquilo que nunca tive..

    bjs..

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  12. Demais.

    Infelizmente hoje a minha casa também está mais vazia...

    Beijos Imundos!

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  13. É, minha mana...é a FORÇA DA GRANA QUE ERGUE E DESTRÓI COISAS BELAS...
    Há anos, muitos anos (infelizmente) que eu aprendi(na marra) a não contar mais com os nossos familiares...
    Nesta vida, cada um dá o que tem...e o que pode dar...e se de lá, NADA VEM...continuo a VIVER E AMAR a nossa VIDA...

    E para nós SEIS...a mesa sempre está e estará ETERNAMENTE posta , bem colorida, cheia de pratos, talheres, guardanapos, música, e muito, mas MUITO amor....que seja para comer PÃO e ÁGUA, ou pra degustramos a mais deliciosa e requintada PAELLA, regada ao mais imponente vinho.... feita com ingredientes vindos direto da Espanha sob encomenda...

    TANTO FAZ...o que importa, é que ESTAMOS SEMPRE JUNTOS...faça SOL ou FAÇA CHUVA...com, ou sem esta DOENÇA chamada DINHEIROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!

    Nós sabemos QUEM MANDA EM QUEM.É o que me IMPORTA.PONTO E BASTA.

    VIVA A NOSSA DOCE FAMÍLIA!

    Viva nosso PAI....viva nossa MÃE...viva nossa Lulu....viva nossa Bebela....viva VOCÊ....e VIVA EU!!!!!!!!!!!!!!!


    Te amo, sua linda!!

    Obs-Corre, pois a mesa está posta e a comida esfriando, vem logo, vem!!!!!!!


    Bia

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  14. Espero não ter essa falta, essa ausência. Quero a mesa cheia e a casa lotada.

    :)

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  15. Como a mesa da minha avó aos domingos foi presente na minha infancia. Aquele frango frito delicioso... A Fanta Laranja que meu avô comprava para os netos...
    Como foi importante.
    Hoje nao abro mao da mesa dos domingos estar com a familia. Minha mae, meus filhos, meus irmaos, minha sobrinha e claro, minha avó!
    Espero continuar assim por muito tempo!!
    Beijos

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  16. O que importa, é a região privilegiada
    do seu ser, onde a memória fotografou
    aquelas imagens postadas por sobre a mesa.
    Além do tempo. Lá é o relicário que mantém intactas as lembranças que a vida não desbotou.

    Beijos
    Tácito

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  17. tinha q haver outra forma de eternizar, e n somente em lembranças, uma forma q se pudesse tocar.

    bjossss...

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  18. Ai, doeu aqui.

    Beijo, flor.

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  19. Sinto saudades da mesa de fim de ano da minha avó tb...
    éramos felizes e não sabíamos...
    Depois q ela se foi, tudo acabou e a família esfacelou-se...
    Tanto por nada!


    Adorei seu texto!

    Bjo Sol

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  20. Voce me levou de volta para um tempo tão cheio de esperancas!!!Tudo tinha outras cores...
    Era o estar juntos o melhor tempero.
    Saudades enorme amargam a boca...

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  21. Solange,

    Hoje, só posso te falar de dor, silêncio e solidão. O meu domingo foi de chuva. Perdi dois sobrinhos num mesmo dia. Um por doença, outro por opção...
    Sabe, as tuas palavras despertaram em mim uma vontade enorme de estender mais toalhas, de colocar mais mesas...
    É que andei esquecida de como isso me fazia feliz... Obrigada, por me lembrar!Bjs

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  22. A luz doce do final da tarde atravessava
    a janela da cozinha por detrás de ti,
    formando uma aura à volta da tua cabeça
    enquanto jantávamos. Estávamos todos de volta da mesa de madeira com mármore branco até que ficávamos só eu e tu na penumbra, porque não tínhamos vontade sequer de acender a luz.
    Falavas de livros e filmes e eu te seguia sempre com a curiosidade de quem sabia tão pouco e se encantava com as tuas conclusões tão simples.
    Fui eu quem teve de retirar todos os móveis da velha casa naquele dia de chuva, enquanto te ias acabando dia a dia com o teu rosto seco da morfina. A mesa de mármore branco ficou sozinha. Perguntaram-me se era para ficar e eu disse que não. Levaram-na bem lá no alto de toda a tralha, em cima do camião. Mais tarde arrependi-me e fui recuperá-la, mas já só havia o tampo de pedra. O teu rosto amarelo inclinado e as tuas mãos delicadas continuavam à minha frente e reflectiam-se nele ao lado dos pratos vazios. Mas quando viraste os olhos para mim, eu vi que era só uma recordação e que por isso eras atravessado pela chuva que não parava de cair.



    A sua recordação, Solange, levou-me a outra recordação. Como uma música, tocada por um oceano de distância; ou como se o mar fosse o espelho que nos devolve as memórias, uma a uma, com que teremos de viver a vida.

    Muito lindo o seu texto. Como sempre.
    Beijo.

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  23. Também sinto falta da mesa posta. De todo sentimento bom que a família tentava transparecer, para se reunir.
    Hoje está tudo mais vazio, parece que vivemos em tempos de guerra fria: O egoísmo contra o mundo.

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  24. "De repente a gente cresce, e a coisa começa a desacontecer."

    Tão profundo, Sol!

    Twittei! rs

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  25. ...saborear as lembranças boas, ter saudades, rir e chorar, continuar.

    ns

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  26. Nossa. Envolvente a escrita. Dolorosa, crescer, hiatos educados é um belo achado.
    Lamentável. Perdemos coisas que só percebemos depois de terem acabado por completo.
    Uma lástima.
    Belo texto.

    Beijos. Bom domingo.

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