segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
história ou estória ? ...para meu leitor anônimo
E que fique
muito mal explicado.
Não faço
força para ser entendido.
Quem faz
sentido é soldado...
Mario
Quintana
Minha última postagem me ofereceu uma
rara oportunidade. A de confessar, como diz meu namorado, que sou muito melhor
fotógrafa do que escritora.
Não dou às palavras uma forma manejável,
não as limpo. Não estou atrás de prêmios literários.
Escrevo o que sinto, a respeito do que
quero. Não sou presa a regras, tendências ou métricas. Sou em primeira pessoa, em
segunda, me escondo, sou tantas. Sou metáforas, prosa, poesia, versos, contos e
cantos. Sou verdade, e sou mentira.
Escrever me faz sorrir.
Que importância então, poderia ter,
saber se o que escrevo são histórias ou estórias ?
Agarro-me humildemente à definição de
que a palavra estória não tem respaldo etimológico algum, anda em desuso, e gosto
da idéia de que estamos na era da abrangência. Nada deveria ser absoluto, fechado
em quadrados, endurecido ou cerceado. Então, sinto muito, mas toda estória é uma história.
Perdoe-me querido leitor, se tem achado
que apresento tanta coisa desconexa ou sem sentido. Sinto muito por deixá-lo
tão confuso, sem saber se escrevo meus reais sentimentos, aqueles que vêm de
dentro, ou se é tudo material literário.
Só o que posso dizer é que é tudo sentimento,
então tudo vem de dentro. Este é o material do qual sou feita.
É que, para mim, escrever trata de realidade,
mesmo na ficção.
E a verdade, tão absolutamente relativa,
deve ser medida por quem a escreve, e também por quem a lê... como naquele dito
popular que nos lembra que existem sempre três verdades : a minha, a sua, e a
verdadeira.
Não quero eleger nenhuma.
Prefiro continuar livre.
Então, caro leitor, se te incomodo
tanto, lamento.
Lamento ainda mais porque diz que não me
reconhece.
É que estou amando.
Nem mesmo eu me reconheço mais.
Tenho investido meu tempo em viver.
Perdoe-me mais uma vez, já confessei : sou
melhor fotógrafa.
E escrever tem sido isso.
Só fotografar.
Solange Maia
strip-tease...
Nenhuma vela acesa, nem música do Joe Cocker ou cinta-liga.
O rosto levemente cansado, a maquiagem gasta pelo dia, a luz acesa.
Sem truques de sedução.
Foi assim que aconteceu.
Amar dava um medo danado.
Mas teus olhos foram desabotoando os fios da minha fala.
Fui contando de todas as coisas que, definitivamente, ficavam pequenas diante de ti.
Sei que não gosta que eu fale isso, mas é fato, nenhuma história foi tão grande. Nenhum personagem.
Nossa intimidade descobrindo o último pano que calava o meu corpo. Tudo ali.
E, embora amar desse um medo danado, mesmo assim eu confessava : meu único amor é você. Desde sempre.
Tudo posto.
Tudo seu.
Mas o amor é deliciosamente benigno.
E a vida é curta.
Então vem logo, vem beijar minha boca.
E dane-se todo o resto...
Solange Maia
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
sim, caso com você...
Sim.
Caso, amor.
É claro que caso com você.
E seja como for.
No meio do jardim dos amantes, nas dunas do
deserto, numa montanha Celta lá na Escócia, em Annecy no inverno, na Rua das Barcas, num simples quintal, ou casamos no 709, onde nos vimos pela primeira vez.
Em volta de uma fogueira, numa noite de lua cheia, com velas
desenhando um caminho, com centenas daquelas lanternas de papel de Jacarta, ou à meia luz
na sala onde dançamos quase todas as noites.
Rodeados de amigos, com toda a família, um
monte de gente, ou só nós dois, que já é tanto. Tanto.
Caso porque quero passar o resto da vida
com você.
Porque nossas almas sentem-se extremamente a vontade desde que nos encontramos.
Caso porque amo seu cheiro espalhado pelas toalhas de banho, pelos travesseiros e na concha da minha mão.
Caso com você porque adoro sussurrar sacanagens no teu ouvido, e receber de volta seu corpo inteiro sobre o meu. Caso porque me deixa lamber teu umbigo, porque queremos tudo, porque nossa cama parece nave, nos levando por tantos caminhos sem nunca nos deixar nublar.
Caso com você porque adoro sussurrar sacanagens no teu ouvido, e receber de volta seu corpo inteiro sobre o meu. Caso porque me deixa lamber teu umbigo, porque queremos tudo, porque nossa cama parece nave, nos levando por tantos caminhos sem nunca nos deixar nublar.
Caso com você porque quero amar tuas meninas, e
cuidar delas como você ama e cuida da minha. Porque quero-as misturadas na nossa cama aos domingos de manhã. Caso porque vou fazer carinho em cada cantinho de cada um de vocês, porque quero assar maçãs no inverno e fazer milk shakes no verão, mas caso principalmente porque pretendo gastar horas ouvindo as histórias de cada um.
Caso com você porque me trouxe de volta a mim, porque me leva pela mão, me lembra que sou fêmea, e sobretudo porque me beija como ninguém.
Caso porque quero dormir com você, porque quero aprender a descansar, e porque nunca, absolutamente nunca, me enjoo de te olhar.
Caso porque quero dormir com você, porque quero aprender a descansar, e porque nunca, absolutamente nunca, me enjoo de te olhar.
Caso com você porque topou escrever comigo o roteiro de uma peça, porque me ensinou a dançar bolero, porque me deixou afastar os móveis, porque me permitiu colocar outra taça à mesa. Caso porque poderei continuar te fotografando enquanto dorme.
Caso com você porque me faz sentir que ganhamos em Vegas, um Royal Flush. E só 0,0001539% das pessoas sabem o que é isso.
Caso porque você me inspira, porque te admiro, e porque tem um sorriso no canto da boca do qual jamais poderei partir.
Caso com você porque me faz sentir que ganhamos em Vegas, um Royal Flush. E só 0,0001539% das pessoas sabem o que é isso.
Caso porque você me inspira, porque te admiro, e porque tem um sorriso no canto da boca do qual jamais poderei partir.
Sim, amor, caso com você.
Poderia listar mil motivos, ou mais, mas preste atenção principalmente a este aqui :
Caso com você porque amar nunca, jamais, em hipótese alguma, fez tanto sentido !
Solange Maia
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
taraguela...
Taraguela.
Acho que é a única palavra errada que restou.
Ta-ga-re-la, corrijo sorrindo, sem vontade alguma de consertar essa 'meninice' que restou. Tagarela é o que ela é. Menina falante, 'conversadeira', expansiva... mas sabe, sim, sabe ouvir. E adora. Ouve demoradamente. Se interessa pelas histórias, pelas pessoas e pela vida.
É surpreendente como tem um olhar terno sobre todas as coisas, como sua persuasão é sempre afetiva, como sua fala é a de uma criança, mas tem sempre uma inquietação adulta, uma sede, uma fome...
Bebela quer mais.
É ampla, plural.
Bebela é presente dos céus.
Há 10 anos ta-ra-gue-lan-do doçuras por onde vai.
Feliz aniversário, amor !
Te amo tanto...
Acho que é a única palavra errada que restou.
Ta-ga-re-la, corrijo sorrindo, sem vontade alguma de consertar essa 'meninice' que restou. Tagarela é o que ela é. Menina falante, 'conversadeira', expansiva... mas sabe, sim, sabe ouvir. E adora. Ouve demoradamente. Se interessa pelas histórias, pelas pessoas e pela vida.
É surpreendente como tem um olhar terno sobre todas as coisas, como sua persuasão é sempre afetiva, como sua fala é a de uma criança, mas tem sempre uma inquietação adulta, uma sede, uma fome...
Bebela quer mais.
É ampla, plural.
Bebela é presente dos céus.
Há 10 anos ta-ra-gue-lan-do doçuras por onde vai.
Feliz aniversário, amor !
Te amo tanto...
Mamãe
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
o cardápio que quero sempre...
Velas, vento, vinho, volúpia... é o cardápio de hoje.
Música, pele, pelo, pedido, abrigo, lençóis, sussurros, silêncios, segredos, bocas, beijos, suspiros. Cama, mesa e chão. Fêmea, fome, fenda, fundo. Respiração, pernas, dorso, nuca e mão. Ninho, névoa, água, gel. Língua, suor, curva, tremor, calor. Frio. Frente. Verso. Poesia. Crua e nua. Olhos, arrepios, close, so, so close... Luz, escuridão, tato, olfato, degustação. Tesão. Amor. Paixão. Delicadeza e palavrão. Repetição.
Tudo. absolutamente tudo.
Dentro. Fora. Dentro.
Tanto, tanto, tanto...
Tudo leve, tudo posto, tudo nosso.
O presente é a gente.
Você me dá sorte !
Também te amo.
Também te como.
Também te devoro.
Solange Maia
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
se Sartre estava certo...
porque eu te amo, MB...
e porque é assim que me sinto livre,
estando ao seu lado.
e porque é assim que me sinto livre,
estando ao seu lado.
A menina queria alguém que conduzisse a carruagem.
Queria descansar.
Parar um pouco de tentar ser sempre tão corajosa.
Queria alguém que quisesse as mesmas
coisas que ela, e achava que eram coisas tão simples, como alguém que entrelaçasse os dedos aos seus enquanto lhe desse as mãos, alguém que dissesse 'eu quero estar aqui, porque te amo, porque
reconheço a imensidão e a raridade do que temos, mas, sobretudo, porque é assim que me sinto livre, estando ao seu lado'.
A menina queria ser cuidada.
Queria não ter que fingir o tempo todo
que era forte, muito forte, e madura, muito madura.
A menina era só uma menina.
E torcia para que ele percebesse.
Urgentemente.
É que às vezes a gente sucumbe. Desaba mesmo.
Como se todas as bênçãos não segurassem a lágrima gorda que insiste em pesar na
pálpebra. Sente medo. E chora. A gente chora as histórias de uma vida inteira. E deseja um colo
que dure.
A menina parecia tola, mas Sartre também era.
Se ele estava certo, 'fomos sim, condenados à liberdade'.
E ao peso de poder escolher.
Condenados.
Solange Maia
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
alegria vem por acaso... já dizia Lacan
Já se passaram quase 4 anos desde o dia em que esse cartão postal aí em
cima (foto) chegou dentro de um envelope para mim. Nâna Pessoa me enviou. Junto
com outros doces mimos. Mal sabia ela que esse sorriso, tão simples e tão surpreendentemente
emblemático, seria tão importante pra mim. É que ele, o sorriso (sobretudo o sorriso com
o olhar), virou um símbolo, uma brincadeira entre minhas irmãs e eu. É que achamos
a menina retratada dona de uma alegria tão ‘de verdade’ que prometemos guardar
a imagem e enviar uma para a
outra somente no dia em que vivêssemos algum episódio que justificasse uma
alegria dessas dentro da gente.
Desde então, ter esse postal enviado ou publicado seria o mesmo que dizer : -
Manas, sabem aquela ‘alegria de verdade’ ? A supreendente ? A da menininha do postal ? Pois é, ela está aqui,
bem agora, comigo.
E teríamos algo a brindar !
Cumprimos a promessa. A menina do cartão postal ficou guardada esperando
tal momento.
Não que não tivéssemos tido alegrias. Tivemos. Muitas. Alegrias
cotidianas, pequenos presentes, momentos mágicos, mas confesso, nada que
justificasse tirar da gaveta da memória nossa doce menina sorridente.
Até ontem.
Ontem, quando me olhei no espelho escovando os dentes, a menina estava lá.
Reconheci na hora.
Meus olhos transbordando uma ‘alegria de verdade’.
E alegrias de verdade são surpreendentemente simples.
Não podem ser metas, porque não são um destino a se chegar, agora eu
sei. Escondem-se no caminho, e correr atrás seria o mesmo que correr atrás do
vento, ele nunca está lá. Alegria é mistério do instante, é fugaz, pertence ao agora.
E vem por acaso...
Olhei no espelho mais uma vez, já com os dentes escovadas, e era óbvio : estava feliz.
É, Nâna, estou feliz.
Estupidamente feliz.
Como a menina do postal.
E reconheço na minha
felicidade o quanto a alegria é poderosa.
Embora sutil e discreta.
Como a poesia que vejo numa
maçã.
Solange Maia
terça-feira, 25 de novembro de 2014
estava tudo lá, amor...
Tudo me encanta, tudo me seduz.
Vejo a mulher que um dia eu fui acordando
de manhã, voltando a existir. Abandono pensamentos lineares, rotas de fuga, e me
permito ficar vulnerável. Absolutamente.
Tão difícil, mas tão bom.
Sinto-me viva. Como nunca. E você nem
sabe.
Acredito, sem entender.
É o que você chama de fé.
Eu, de amor.
Desejo então, que não me escape mais
essa fome.
Que não me roubem mais de mim.
É que ando aproveitando a nossa paz,
relaxando todos os meus músculos, atravessando todas as fronteiras. Celebro o
desejo. Desculpo a preguiça. E quero continuar inebriada... para que possamos viver eternidades, a despeito de durarem minutos, segundos, ou séculos. Porque é com você que eu quero estar.
Sim, sou grata aos meus caminhos porque eu
estava pronta no exato instante em que você cruzou a minha vida.
E grata aos meus olhos que puderam ver faíscas
onde sabiam que haveria fogo.
Estava tudo lá, amor.
Antes mesmo da nossa história começar.
Antes mesmo que eu tivesse aberto aquela porta.
Solange Maia
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
amar não cansa...
"Porque tu
sabes que é de poesia minha vida secreta."
Hilda Hilst
Eu não entendo quando você franze a testa e faz um
esforço danado para acreditar quando digo com todas as letras que te amo como
nunca amei antes, ou quando digo que minhas palavras eram feitas de espera, porque
no fundo era você que eu queria, embora achasse que talvez você só existisse no
território ébrio das minhas fantasias.
Você quase duvida quando digo que meu coração andava blindado, ou que morava em mim uma menina desinteressada, muito desinteressada, com preguiça
dessa gente que me dizia tão pouco. Tão pouco.
Não que eu não quisesse amar, não era isso. Nem acreditar. Eu queria. É que,
de alguma maneira, achava que não era possível.
Apaixonar-se sim. Mas o que vinha depois, ahh, o que vinha depois era o
amor, e o amor era outra coisa. O amor era um patamar inatingível. E eu sabia
que só ele seria capaz de alguma mudança.
Mas você apareceu, amor.
Absolutamente ao acaso, mas apareceu.
E agora preciso te contar sobre essas coisas. É que
você não sai da minha cabeça, e desde que chegou me deixou assim tão desarmada
que nem sei. Já não resisto, já não duvido, nem tenho fronteiras, ou limites, não sou mais
minha.
Foi a nossa paixão que nunca acabou, que se misturou ao amor, e que
acho até que me trouxe essa fé bonita que ando tendo em todas as coisas que eu chamava de ‘impossíveis’.
Então não entendo quando você franze a testa, amor, porque eu te amo, absurdamente, e, se você ler bem, vai ver que isso nunca aconteceu antes. Nunca.
Dei para ser permissiva,
entregue, desprotegida, sua, só sua, totalmente sua. Tanto que preciso
confessar: sirvo-me de você. Com apetite voraz. Sempre e muito, quero tudo, tudo... mas não é só
isso, temos uma intimidade linda que eu nem sabia que existia. E em nós, como se já
não se bastasse por si só, o erotismo tem um segundo viés, o do amor.
Ainda há tanto a dizer, e, ao mesmo tempo, nada a ser dito.
É que
ando trocando palavras por gestos.
Então agora que eu
sei que já leu estas linhas, vem para cá, amor. Vem para cá, que agora a
gente já sabe que amar não cansa.
Não.
Amar não cansa.
Solange Maia
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
me leve para onde bem entender...
Não há porque cortar caminho.
Não há porque ir direto à linha de chegada.
Sei agora que no amor beija-se com o corpo todo, na contramão da pressa.
Cuida-se para que nada escape ao olhar.
São assim os passeios que temos feito um no outro.
Nenhum dos nossos sentidos está dormente, tudo vibra, tudo comunga, tudo
deseja.
Não temos uma única intenção no nosso amor, não é só sexo, nem só bocas, ou beijos, ou delicadeza, não é só coisa alguma. Somos plurais em nossos quereres, desejamos
o caminho todo. Cada curva, cada fresta, cada vão.
Percorrer uma trilha demorada, fazer amor mesmo sem o ato, provocar excitação intensa, despertar desejos lentamente, perder o fôlego...
Somos feitos desses abraços cheios de segredos ao pé do ouvido, das
vontades nunca antes confessadas, dos beijos infinitos, de conversas sérias e
de conversas tolas, somos riso e bilhetinhos, somos flor, somos água, palavras
e silêncios.
Você segura a minha mão, e no minuto seguinte puxa o meu cabelo. Somos tanta coisa.
Não damos ouvidos à pressa do resto do mundo, flertamos com a vida. Nosso beijo demora, sempre e muito, não sabemos o que é ‘selinho’, vergonha ou censura. A gente se dá. É fato. E gosta. É fato também.
É por isso que deixo que você me leve para onde bem entender.
Porque nosso caminho é mais importante que nosso destino.
Nossa companhia é mais importante que a geografia.
Muito mais.
Solange Maia
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
alguma coisa está muito errada...
Na menina bulímica no sofá, nos garotos que brincam com armas, no homem solitário
que ninguém vê, na moça que está realizando a sétima cirurgia plástica, sem nunca ficar satisfeita, na pessoa que escolhe morrer, na que vê diferença na cor da pele,
em quem come demais, em quem tem medo de Deus, em quem acredita nas próprias
mentiras, em quem dá a mão para a culpa, na coragem que não vem, na buzina insistente
e agressiva dos carros pela manhã, no cara que resolve no braço possíveis diferenças,
em quem bate, e em quem apanha, no sequestro, no consumo, na droga, na tão
descabida guerra, no dinheiro que mente comprar tudo, em quem decide, mas não
vira a página, e em quem não sabe quando parar.
Na arte que ninguém vê, na música que ninguém ouve, no beijo que não demora,
no amor que não se dá...
Na criança que não brinca, no adulto que não se entrega, no sexo
sodomizado e não consentido.
Na soberba, na arrogância, e na indiferença.
Alguma coisa está muito errada na solidão.
Está, mas ainda assim, agradeço.
Agradeço a bendita precariedade de todos nós, porque ela é baliza que indica prováveis caminhos.
Agradeço e torço
para que nunca me falte o senso agudo da responsabilidade, porque sou eu quem
faço essas escolhas.
Sou eu quem traço os meus caminhos,
e não quero nunca 'não ver'.
Não quero nunca minha vida reduzida por falta de opções.
Sim, alguma coisa está muito errada, mas ainda assim, ainda assim, agradeço, afinal a gente ainda pode fazer escolhas.
Solange Maia
(imagem : fragmento vazio - pablo herrerias)
terça-feira, 4 de novembro de 2014
nem queria te contar...
Tenho te amado em silêncio também.
Verdade. Às vezes te amo assim, sem
precisar te contar.
Te amo quando flagro aquele instante
sutil em que morde o lábio inferior e sorri ao mesmo tempo, quando põe as duas
mãos envolta do meu rosto, me olha demoradamente e só depois me beija, quando escova o
cabelo, primeiro com a escova e depois com as mãos, quando fala todo empolgado
sobre ferver durante sete dias e sete noites as folhas venenosas que farão a maniçoba. Te
amo quando me conta que todos os dias beija o teu pai, quando leva semanas pensando num presente bem legal pra tua menina, quando funde todas as nossas
músicas num único pendrive, e diz todo bobo que gosta mais das minhas, amo
também quando me pede para levá-lo conosco seja onde for. Te amo quando me
conta que deixou de ganhar a corrida mais importante da tua infância só para
não atropelar uma menina, quando fala palavrões pra aumentar a força das suas
exclamações, quando deitados recua o corpo pra me ver melhor, quando sorri de
olhos fechados diante das minhas ‘experiências sensoriais’. Te amo todas as
vezes que sussurra em meu ouvido “foi a primeira vez que fiz isso na vida”, e
quando, em contrapartida, cheio de soberba se diz o melhor cara no teu negócio,
e depois ri. Te amo quando dormindo me puxa pra
mais perto de ti, e quando põe uma camiseta qualquer em cima da luzinha da tv a
cabo, só pra deixar o escuro ainda mais escuro. Te amo quando me conta dos teus
quadrados, quando sorri ao ouvir minhas bobagens, e quando cuida dos meus 'medinhos' que nasceram depois que me apaixonei. Te amo quando descobre que agora sinto ciúmes, e sorri porque eu disse toda adulta que nem sabia o que era isso, e quando pede desculpas por me interromper, sendo que o faço vezes sem fim. Te
amo quando me conta que gosta de comédias românticas, de Carpinejar, do meu
bolo de chocolate, e, na verdade, de qualquer coisa doce, e qualquer bolo de chocolate, mas que não gosta de Ana
Carolina, nem de pimentão. Te amo quando quer saber se fica mais bonito com gel
ou sem gel, com barba ou sem barba, quando faz perguntas, muitas, quando procura
respostas, quando encanta-se com frases, com palavras, e com silêncios. E, toda
vez que você sorri, te amo ainda mais.
Não. Talvez eu não tenha te contado, talvez eu nem queira te contar, mas sei que você sabe...
É que o meu silêncio 'guarda' a tua presença o tempo todo.
Mas o meu olhar não.
Solange Maia
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
o amor é normal...
Ele olhava pra ela
com ternura. Ela sorria com o braço estendido sobre as costas dele e deixava
escapar pelos olhos uma alegria simples, dessas de quem entende que o amor não devia
mesmo ser nada demais. Aceita e acolhe como a coisa mais natural do mundo. Não tem
medo. A mãe dela afasta o corpo só um pouco, o suficiente para poder olhar a
cena. Eles cabiam inteiros, assim entrelaçados, na vida dela. Volta o corpo
para perto dos dois. Agora eram os três numa preguiça generosa, dessas que só
acontecem nas manhãs de domingo, dessas onde cabe tanta coisa, onde há tanto a ser dito, e mesmo assim a atmosfera é tomada por um silêncio amplo e confortável que muito se parece com um abraço. E, com uma
naturalidade que é delas, iam fiando o afeto e reduzindo a fio tantos emaranhados
que para elas estavam longe de parecerem grandes. Elas gostavam do amor. E gostavam
dele. Descomplicadamente.
Ele, entre uma risada e uma história, engoliu as letras ásperas de resistência. Percebeu que já não cabiam. Na sua boca, até mesmo aquele punhado de regras a respeito do que devia ser feito, e do que não, ficaram mudas. Tudo se dissolvendo diante da simplicidade do gesto.
Na boca dele só um sorriso de quem começava a desconfiar que o amor era mesmo a razão para que tudo aquilo que antes disso parecia absurdo, parecesse agora a coisa mais normal que existe.
Ele, entre uma risada e uma história, engoliu as letras ásperas de resistência. Percebeu que já não cabiam. Na sua boca, até mesmo aquele punhado de regras a respeito do que devia ser feito, e do que não, ficaram mudas. Tudo se dissolvendo diante da simplicidade do gesto.
Na boca dele só um sorriso de quem começava a desconfiar que o amor era mesmo a razão para que tudo aquilo que antes disso parecia absurdo, parecesse agora a coisa mais normal que existe.
Solange Maia
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
LEGO
- Eu quero - escrevo.
- Eu vou - ele responde.
- Então vamos - finalizo.
Parece slogan de campanha publicitária.
Mas não é.
É o amor brincando com a gente, cheio de
intimidade. Um jeito nosso de dizer que temos quereres comuns e que estamos
juntos, porque é exatamente assim que estamos : juntos.
E posso jurar que sei exatamente a cara
que você faz ao ler e ao escrever essas palavras.
Assim como posso jurar que já sei a
diferença da sua voz quando você está trabalhando, quando está com sono, ou
quando quer me namorar. Sei como gosta que eu arranhe tuas costas, qual é o seu
travesseiro preferido, o ponto da tua carne, as pintas no teu corpo, a planta
do teu pé.
Sei das suas sobremesas favoritas, de
todas as cores dos teus olhos, da espessura da tua barba cerrada, e das músicas
que ama ouvir. Sei da sua ternura e também do seu perfeccionismo, sei da musculatura
emocional que tem criado ultimamente, e dos desafios a que, corajosamente, se propõe.
Sei que cuida de mim mesmo quando me acha muito, muito chata. Sei do frio que
sente no pé, da temperatura que gosta da água, e da fome que sente pela vida.
Sei que temos tido muita sorte, mas sei,
sobretudo, do tanto que temos cuidado da gente e do nosso amor.
Entra dia, sai dia... e assim temos
construído nossa relação. Um amor calmo, quente, e feito pra durar.
Entra dia, sai dia... e você continua
sendo minha pessoa favorita nesse mundo.
O lugar onde gosto de estar.
Tenho acreditado de novo.
Temos nos dado novas chances.
Temos nos divertido.
Temos nos dado novas chances.
Temos nos divertido.
A verdade é que o mundo ficou bem mais
bonito desde que você chegou, então sorrio e confesso, é impossível não dizer :
- Eu quero.
Irresistível não sorrir ao ouvir a resposta
:
- Eu vou.
É, amor...
- Então vamos - finalizo.
Meu momento predileto ?
São tantos, mas nossa ‘conchinha’ na hora de dormir tem sido praticamente insuperável, tudo encaixa, como num LEGO, ele costuma dizer. Somos feitos de carinhos que não dormem, de abraços côncavos que nos permitem sonhar antes mesmo de dormir.
Temos construído
Solange Maia
domingo, 12 de outubro de 2014
in-fi-ni-ta-men-te maior...
O
amor não força nada, ao contrário, ele abre caminho.
William
P. Young
Há anos tenho falado sobre a vida e sobre o amor.
Já escrevi antes sobre 'primeiras vezes', e sobre algumas pessoas especiais. Rotulei como 'grandiosas' muitas dessas experiências, porque sim, foram mesmo grandes momentos.
Mas a vida, surpreendente que é, veio e me trouxe o novo,
o in-fi-ni-ta-men-te maior, o inacreditavelmente mais bonito.
E agora, que tudo foi redimensionado, só o
que me vem à cabeça são as palavras de Clóvis
de Barros Filho, numa entrevista que deu e que nunca mais me esqueci. Tenho-a
gravada em meu celular, e ouço vezes sem fim, no trânsito, em casa, no escritório.
Ele diz que devemos saber que "...estamos
diante de um mundo extraordinariamente competente para nos entristecer, mas que,
aqui e ali, esse mundo também é capaz de nos proporcionar grandes alegrias,
grandes surpresas, e momentos que a gente nunca mais gostaria que acabassem. E
são esses momentos que a gente ‘persegue’, que farão da vida, sempre alguma
coisa digníssima de ser buscada, e fantástica de ser vivida."
Cheguei a duvidar dessa ‘grande alegria’, e dessa ‘grande surpresa’, mas
agora, diante delas, e vivendo um desses momentos que eu gostaria que nunca acabasse,
rendo-me.
Rendo-me completamente.
Rendo-me porque, de repente, sem planejamento algum, deixei você pegar
na minha mão, e soube, naquele exato segundo, que você era a mão que eu havia esperado
por tanto tempo.
Você foi a 'grande surpresa'.
E temos sido, desde então, essa 'grande alegria'.
E já não há mais verso. Nem prosa tampouco.
Não escolho mais as palavras.
Elas saem displicentes, indiferentes a mim. Já sabem o que querem
contar.
Agora não escrevo mais para enfeitar a página.
Escrevo para enfeitar o nosso amor.
Para guardá-lo, para lermos juntos daqui a cem anos.
Escrevo porque preciso falar com você. Porque sinto saudade mesmo quando
ainda está aqui, porque nosso querer não tem cabido só nos dias, só no tempo,
só no agora.
Escrevo pra te fazer carinho, pra te alcançar nesse espaço mínimo antes
de você chegar.
E já não há mais verso. Nem prosa tampouco.
Já não escrevo palavras que alimentam o desejo, para que dele se
alimentem depois. Nem faço poesias narrando incompletudes amorosas, em que amantes ora
estão, oras não estão. Já não quero contar histórias de amores que se
distanciaram, e que não se correspondem mais.
Já não vivo tentando lembrar qual era o gosto que faltava, o que não
havia, ou onde doía.
Com você eu tenho tudo.
E, acredite, nem sabia que isso era possível.
Agora escrevo porque
descobri que quero passar o resto da minha vida com você. E, porque desejo que
o resto da minha vida comece o mais rápido possível.
Solange Maia
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
hipérboles de volúpia e ternura...
E se, de repente, cada
alegria nova desfaz um nó ?
E se a gente nem acreditava mais que esses nós podiam ser desfeitos ?
E se, de repente, nossas convicções começam parecer endurecidas demais ?
E se a gente sentir uma vontade imensa de rever as ideias, de olhar por outro ângulo, de nos dar uma chance, de ignorar os julgamentos e de ser feliz, estupidamente feliz ?
E se, de repente, nossas convicções começam parecer endurecidas demais ?
E se a gente sentir uma vontade imensa de rever as ideias, de olhar por outro ângulo, de nos dar uma chance, de ignorar os julgamentos e de ser feliz, estupidamente feliz ?
E se, de repente, nos dermos conta que bem no meio da nossa vida tranquila e sossegada, surgiu aquele alguém que muda tudo que a gente já foi ?
E se essa pessoa vira imediatamente uma música em looping infinito na cabeça da gente ? E se a gente não quiser nem um pouquinho dar stop nessa música ?
E se, de repente, todas as coisas prontas que a gente sabia descobrem-se na verdade apenas começadas ?
E se essa pessoa vira imediatamente uma música em looping infinito na cabeça da gente ? E se a gente não quiser nem um pouquinho dar stop nessa música ?
E se, de repente, todas as coisas prontas que a gente sabia descobrem-se na verdade apenas começadas ?
E se o que antes era muito
vira agora muito pouco ?
E se, de repente, um único beijo dura duas horas, e a gente nem se lembrava que isso existia ?
E se já não sabemos onde fica a fronteira que divide a paixão e o amor, porque tudo anda deliciosamente misturado ?
E se, de repente, um olhar entra dentro da gente e nos faz sentir absurdamente amados, desejados e cuidados ?
E se a gente nem quiser mais se proteger ?
E se, de repente, a gente descobre que existe sim alguém capaz de perceber que mora um poema inteiro dentro da nossa boca ?
E se já não sabemos onde fica a fronteira que divide a paixão e o amor, porque tudo anda deliciosamente misturado ?
E se, de repente, um olhar entra dentro da gente e nos faz sentir absurdamente amados, desejados e cuidados ?
E se a gente nem quiser mais se proteger ?
E se, de repente, a gente descobre que existe sim alguém capaz de perceber que mora um poema inteiro dentro da nossa boca ?
E se agora a gente sabe que saudade é uma coisa muito, muito sem graça ?
E se, de repente, a cama branca já não combina mais com esse sexo tão gostoso, onde o coração pulsa em sintonia com o tesão, e a gente desenha hipérboles de ternura nas costas voluptuosas do outro ?
E se a gente começa a querer enfeitar a vida do lado de fora, só pra combinar mais com o lado de dentro ?
E se a gente começa a querer enfeitar a vida do lado de fora, só pra combinar mais com o lado de dentro ?
Solange Maia
terça-feira, 30 de setembro de 2014
de joelhos...
Afundado entre as almofadas da sala vejo
teus olhos fechando devagar ao mesmo tempo em que inspira mais ar do que
precisa... desliza a mão pelo peito demorando na curva da nuca como se não
percebesse que é assim que me despeço da menina tímida que mora em mim.
Sopra o ar, com o desejo atrelado à sua boca
em “ó”, expira lânguida e lentamente, e assim acelera-me o pulso. Sinto a ventania
que vem de dentro de você num espasmo orgânico e visceral.
Não tiro o olhar de ti enquanto afasto a tua roupa e passeio devagar por tua pele.
Arqueia o corpo e me encaixo no seu
côncavo.
Abro mão de sussurros para que as
palavras cheguem sonoras e quentes ao teu ouvido.
Quero que escute que te desejo.
Escorrego no teu peito até cair de joelhos.
Quero que saiba que te desejo.
Quero que escute que te desejo.
Escorrego no teu peito até cair de joelhos.
Quero que saiba que te desejo.
Meu cabelo faz sombra onde somos só um. Afasto para que me enxergue.
Quero que veja que te desejo.
Quero que veja que te desejo.
E a esta altura somos só sentidos. Tudo exposto, e tudo dito.
Afundado entre as almofadas da sala você devia saber, mas acho que não sabe. É que se chegar mais perto, corre o risco de eu nunca mais te deixar partir.
Afundado entre as almofadas da sala você devia saber, mas acho que não sabe. É que se chegar mais perto, corre o risco de eu nunca mais te deixar partir.
Solange Maia
sábado, 27 de setembro de 2014
20 segundos de coragem...
'...e nada mais te prende aqui
dinheiro, grades ou palavras
partir, andar, eis que chega
não há como deter a alvorada'
PARTIR, ANDAR - Herbert Vianna
A malabarista no farol tem 9
anos. 10 talvez.
Chove.
As gotas deixam o rosto dela orvalhado,
nem se nota o frio.
A menina tem um brilho que é
quase um desdém. Uma ironia.
Joga as bolas para o alto, mas
não desvia o olhar do moço que a observa de dentro do carro.
Sorri tão sutilmente que nem
sei se ele vê, é só um canto da boca que mexe, e o corpo que brilha. Como brilha.
Tem quem pense que a menina
não tem nada.
É magra, pálida, e talvez
não devesse estar ali.
Mas a menina é livre, uma
outsider corajosa, dona de um riso franco. Nada nela é óbvio, tudo está subentendido.
Os olhos são desconcertantes.
O moço do carro nunca se sentiu
tão preso, tão pequeno, tão assustado.
E pensava no que tinha para oferecer. Moedas ?
O quanto valem diante dessa
menina tão solta, dessa alma tão desalgemada, desses pés descalços ?
O moço, 'protegido' no carro, lembrou-se
de um filme que contava a historia de Benjamin Mee, e de uma cena específica, belíssima, em
que ele falava que “às vezes tudo
que você precisa na vida é de 20 segundos de coragem extrema,
20 segundos de bravura insana...”, e que a
partir daí tudo muda, tudo começa a acontecer.
É.
O mundo lhe dá milhões de razões
para que você não mude, mas a malabarista no farol gritava o contrário.
Só quem se desprotege sente o
sabor da liberdade.
E o moço foi outro pra casa.
Faltava-lhe ar.
Sabia agora o que tinha quase esquecido...
a vida é
urgente.
Solange Maia
terça-feira, 23 de setembro de 2014
amor, amor, amor...
Não houve música, nem tampouco todas as
velas que espalhei pela casa. Nem lençóis de linho, vinho, ou banho demorado. Não
houve cenário. Não. Não coube.
Fomos nossa própria canção. O rastro de
fogo e luz iluminando toda a casa. Fomos a cama, o colo, a manta, o ventre, o
vento e a água...
Fomos os passos cegos nos levando a
qualquer chão, as roupas abandonadas no caminho, a boca vermelha de tanto
beijar, as mãos percorrendo tudo, tudo, tudo. Fomos cada canto um do outro, a atmosfera, a ventania, os ângulos girando e nos deixando tontos, tontos, tontos.
E, num instante, não havia nem quarto, nem cama, nem nada. Só nós dois.
E, num instante, não havia nem quarto, nem cama, nem nada. Só nós dois.
A luz acesa nos presenteando com cada mínimo
gesto de prazer desenhado no rosto do outro, na boca, nos olhos, na pele. Nenhum sorriso foi desperdiçado.
Nada. Nada. Nada.
Fomos essa noite mágica onde tudo queríamos enxergar, onde tudo queríamos sentir, onde tudo queríamos dar. Fomos as minhas pernas descansando sobre a curva
das tuas costas, e, finalmente, fomos o que guardamos na gaveta do
criado mudo e chamamos de ‘próxima vez’...
Minha mão em concha ainda guarda o teu
cheiro.
E assim, completamente entorpecida por
essa intimidade tão bonita, já não quero mais escrever.
Não quero mais fazer poesia.
Depois de ontem, só o que quero é fazer amor.
Solange Maia
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
para v.o.c.ê, meu 'alvo' muito específico.
Já perdi a noção do tempo. Só o que sei é que estamos aqui, nos
beijando há horas, em pé no meio da sala, como se fossemos adolescentes.
Há um desenho de água na mesa, onde estavam nossos copos. Sua camisa
jogada na cadeira ao lado. A carteira num canto. A torneira que ainda pinga. O ar tem
o nosso cheiro. E, por mais que seja muito cedo, já sinto o corpo entorpecido por
uma saudade bonita.
Meu cabelo despenteado no
rosto. Uma janela acesa e alguém que espia. Teus olhos que fecham enquanto me
sente percorrer cada canto do teu corpo. Chamadas perdidas em nossos celulares. O ar denso
e absolutamente palpável. Toques leves que fazem o
corpo inteiro arrepiar. A mão estendida que apaga a
luz. A música que nem lembramos porque ficamos cantando outra canção. Todos os sentidos
hiperdimensionados. Tudo a flor da pele. Não tem mundo lá fora.
Voltar pra casa agora ficou
chato.
Mas vamos embora com a boca cheia de beijos.
Lá fora as pessoas não sabem, mas aqui dentro tudo foi ventania.
É.
E quero que saiba que gosto de você.
Gosto porque os dias passam e você não desiste de me descobrir.
Solange Maia
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
barba por fazer...
Não era exatamente uma barba. Era uma displicência
sexy e máscula. A contramão do dia a dia, o abandono da
rotina, a urgência ainda velada de não querer ser tão dócil, embora passasse longe
da vontade de ser truculento.
E fazia com que ele, um homem adulto,
parecesse muito, muito adulto. Testosterona pura. Adulto e primitivo. Ãh ? É
que mulher gosta de homem doce, inteligente, sensível, mas não resistimos à virilidade, e, nesse caso, à barba. Aahhh... a barba. Acho que deve ser uma das melhores imagens dessa 'masculinidade'.
Mudo o ângulo e percebo que ele tem acolhimento
nos olhos, não... não resisto. Mas é a barba por fazer que me distrai, parece trazer implícita
aquela mensagem de ‘me garanto’. Resisto menos ainda.
Gosto de cara limpa, rosto lisinho, do contato
da pele, mas nele a barba cerrada revelava atitude, despertava em mim o velho
clichê : ‘quero descobrir o que esse cara tem’.
Desculpem-me os ‘sarados’, mas esse ar de ‘eu
nem ligo’ é muito mais eficaz que um abdômen definido.
Difícil é encontrar racionalidade diante
de um homem assim.
Inevitavelmente saio com o rosto
arranhado.
Um pecado.
Mas, como todo pecado, absolutamente indispensável.
Solange Maia
terça-feira, 9 de setembro de 2014
pensamentos felizes fazem a gente voar, dizia Peter Pan...
Assistia repetidas vezes um desenho que gostava.
Era assim com o Peter Pan.
Decorava as falas, sabia as cenas, conhecia o
final.
E, por saber, permitia-me a antecipação de algumas alegrias que, mesmo
já muito sentidas, eram quase tão deliciosas quanto as da primeira vez.
Eu sabia que todas as primeiras vezes carregavam uma espécie de
eternidade, mas naquela hora não me importava com a repetição, gostava do prazer
que sentia durante aquele momento, gostava daquela fantasia, da atmosfera, e acrescentava
sempre algo novo ao meu repertório sensorial.
"Pensamentos felizes fazem a gente voar", explicava Peter à Wendy, e eu repetia.
Cresci. Mas em muitos aspectos continuo exatamente a mesma.
Ouço infinitas vezes uma música que gosto.
É que a gente quer repetir o prazer.
Somos fisicamente suscetíveis a essas pequenas alegrias.
E, mesmo depois que silencio a música, fica sempre comigo alguma nota.
Então, sim.
Claro que sim. Quero ganhar música de presente.
Quero desde muito antes daquele agosto de 2013... quero pela música em si,
que é tão perene e causa sempre tanto impacto em mim, mas quero também porque,
de alguma forma, você vem dentro dela.
Sim, principalmente por isso.
Porque pensamentos felizes fazem a gente voar.
Solange Maia
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